Kyrie eleison, Christe eleison, Kyrie eleison.
Alma não é branca, luto não é negro, negro não é folk.
Kyrie eleison.
- Senhor do Bonfim do bom começar: não seja a alegria apenas de um dia; não seja a folia para desfilar na avenida sua. Que seja, por fim, a tua Alforria e nossa a rua, Senhor do Bonfim!
Kyrie eleison, Christe eleison, Kyrie eleison.
(Recitado)
Da raça maldita gratuitamente, a raça de Cam. Secular estigma da escrava Agar, Mãe espoliada, Ismael dos Povos, denegrida Africa.
(Coro - Cantado)
Terras de Luanda, Costa do Marfim, Reino de Guiné, Patria de Aruanda Awa de! (Estamos aqui)
(Recitado)
Carne em toneladas, fardos de porão. Quota da Coroa fichas de Batismo, marcados a ferro para a Salvação. Entregues à Morte, sendo Cristo a vida. Humanos leilões, pecas de cobiça,
300 milhões de africanos mortos na Segregação Caça das Bandeiras, do Esquadrão da Morte. Exus do destino, capitães-do-mato. Quantos Jorge Velho de todos os Lucros, de todos os Tempos, de todas as Guardas! Quantas Aureas Leis da Justiça Branca!
(Coro- Cantado)
Queimamos, de medo -do medo da História- os nossos arquivos. Pusemos em branco a nossa memória.
(Recitado)
Cultura à margem, Culto condenado, Fé de freguesia, Giro tolerado, Revolta ignorada, História mentida.
Ressaca dos Portos. Harlem dos Impérios, Apartheid em casa, favela do mundo. Com "direito a enterro" sem direito à vida. Pelourinhos brancos, flagelados pretos. Negro sem emprego, sem voz e sem vez. Sem direito a ser, a ser e a ser Negro. Dobrados nos eitos, os peitos quebrados, os peitos sugados por filhos alheios, senhores ingratos. Bebês imolados pelas Anas Paes, Testas humilhadas nas águas dos cais,
Bronze incandescente nas bocas dos fornos. Peões de fazenda, pé de bóia-fria, artista varrido no pó da oficina, garçom de boteco, sombra de cozinha, mão de subemprego, carne de bordel... Pixotes nas ruas, caçados nos morros, mortos no xadrez!
Negro embranquecido pra sobreviver. (Branco enegrecido para gozação). Negro embranquecido, morto mansamente pela integração.
(Coro - Cantado)
Mulato iludido, fica do teu lado, do lado do Negro. Não faças, Mulato, a branca traição.
(Recitado)
Padres estudados, Pastores ouvidos, Freiras ajeitadas, Doutores da sorte, Cantores de turno, Monarcas de estádio... Não negueis o Sangue, o grito dos Mortos, o cheiro do Negro, o aroma da Raça, a força do Povo, a voz de Aruanda, a volta aos QUILOMBOS!
(Coro- Cantado)
- Bom Jesus de Pirapora, na procura desta hora, tem piedade de nós.
- Kyrie eleison!
(Solo - Cantado)
Senhor Morto, Deus da Vida, nesta luta proibida, tem piedade de nós.
(Coro)
- Christe eleison!
(Solo - Cantado)
- Irmão Mor da Irmandade, na Paixão da Liberdade, tem piedade de nós.
(Coro)
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