Ordem Bestial (os fundamentos)
Rebaixar a beleza e a singularidade da vida humana: um vazio sem futuro tudo é, foi e será. Enaltecer o vício, a violência e os hábitos noturnos: para fortalecer a alma e assombrar os fracos. Rejeição fanática do lixo judaico-cristão: novos Coliseus para a limpeza espiritual do Ocidente. Sexualidade viril no limite da Tirania: o prazer como realização da Vontade de Potência. Exercícios intelectuais em bibliotecas empoeiradas: a educação individual fortalecendo devaneios de Glória Absoluta. Negras vestimentas, botas e um coração impiedoso: uma Ordem Bestial para tudo destruir.
Ordem Bestial
Senhores e não escravos, dominadores e não dominados: no espírito desta Ordem há espaço para a audácia que alimenta incêndios históricos. Colocamos-nos acima das correntes de pensamento que enxergam na tola existência humana uma dignidade superior. A vida humana é tão somente uma manifestação da Grande Vida que, multiplicada na existência de todos os seres, relativiza-se em sua magnífica diversidade. Sem propósitos, sem um “grand finalle” para animar nossos passos, estamos condenados à miséria do dia-a-dia e a viver sem estímulos exteriores que sejam dignos de confiança. Talvez tudo isso soe demasiado catastrófico e negativo para os espíritos acostumados aos subterfúgios espirituais, já que o homem moderno não está fortalecido em seu ânimo para aceitar a vida em sua futilidade essencial. Este homem precisa sentir algo mágico lhe proporcionando sentido, conforto, segurança e estabilidade o tempo todo. Acreditar que após a morte teremos um Paraíso a nos receber é somente uma crença entre uma constelação de outras crenças, mas ela tem uma força extraordinária e é capaz de, por si só, criar uma Realidade – pois para a maioria dos humanos esta é uma verdade tão tangível quanto os raios solares, o ar e a água da qual bebem todos os dias. Os véus de Maia a tudo encobrem e rasgá-los é tarefa que os homens não querem para si, pois preferem os tímidos relampejos do Conhecimento a enxergar a luz terrificante que emana da Essência. As massas não nos interessam: acostumados a uma mentalidade de rebanho, muitas correntes filosóficas perderam a vitalidade e originalidade de seus pensamentos. O espírito coletivo abranda a coragem intelectual e cria compromissos em busca de maior popularidade, aceitação, cadeiras num Senado ou subsídios financeiros para publicações de escopo maior. A força desta Ordem está única e exclusivamente em sua rejeição completa de tornar-se uma agremiação de membros com carteirinhas. É um individualismo exacerbado, que faria um Stirner chorar de inveja, a força desta Ordem – e a limpeza de suas fileiras está garantida graças ao senso de isolamento que cultivamos tão fanaticamente. Um dos grandes propósitos da Ordem é propor guerra ao Deus judaico-cristão. E ao dizer guerra significa uma negação absoluta do pensamento erigido em torno destes deuses e toda a noção de ética, moral, amor, espírito e outros aspectos da existência que estas religiões criaram. Negação das datas, negação dos comportamentos, negação das tradições e tudo o que esteja associado a elas. Ainda sentimos o odor das fogueiras inquisitórias onde ardiam bruxas detentoras de conhecimentos para sempre perdidos, alquimistas expandindo os horizontes da Ciência em seus laboratórios infectos, livres pensadores retirando as névoas defronte aos olhos dos homens... a Idade Média, freqüentemente associada ao obscurantismo e à ignorância, produziu muitos conhecimentos dos quais não restaram sequer metade. Tomamos como tarefa vingar o passado inscrito em nossa memória e reviver as fogueiras medievais com um novo propósito. A vivência noturna, seja em longas vigílias frente a volumes de História Antiga ou em bares enfumaçados, é uma marca dos membros desta Ordem. Durante o dia vislumbra-se o espetáculo do Capital regurgitando dinheiro e mais dinheiro. Repartições, fábricas , escritórios, seções, lojas: tudo em agonia metódica para aumentar os lucros e multiplicar as necessidades humanas ao ponto em que dificilmente conseguimos distinguir o que é nossa vontade e o que é produto da propaganda. Na verdade, estamos todos neste turbilhão de estímulos e, como Debord, querendo o espetáculo que nos livre de nossa vida tão diminuta, mesmo que por breves instantes. Nas horas luminosas tona-se praticamente impossível qualquer exercício de sincera criatividade, tão tomada pela baixeza do Capital está a vida. Mas a Noite vem: a Noite, a mais antiga das divindades, multiplicadora dos sonhos, mãe do Pesadelo, da Morte e de todos os aspectos negativos da vida... E entre o ocaso do Sol e o advento de um novo dia, temos a chance de algumas horas para nos premiar com alguma aventura qualquer, algum devaneio que nos aproxime do Fantástico, alguma embriaguez onde, segundo os antigos romanos, o homem pode encontrar a sua verdade. E é na noite também onde o sexo ocorre mais ostensiva e perigosamente. A Ordem entende o sexo como a porta mais fácil para o Prazer Absoluto: o gozo desmedido de Príapo que fertiliza multidões de mulheres em seus cortejos lascivos ou o inferno sexual de Gamiani de Musset são as imagens ideais do prazer, que deve ser buscado com um coito intenso que dispense carinhos e privilegie a agressividade dos gestos. O escorpião macho da Indonésia mata a fêmea após o intercurso sexual, o leão ruge e morde a leoa enquanto a possui, o urso não raro estrangula a companheira quando está procriando: a Natureza é rica em exemplos de uniões sexuais violentas e é nisto que reside toda a sua exuberância e lascividade. O homem deve compreender este aspecto de sua natureza e realizar em sua(s) parceira(s) este ímpeto para a conquista, buscando o prazer mais imponente e só interrompendo o coito quando da mulher arrancar urros de prazer. Certamente esta Ordem permanecerá secreta e secretamente desenvolverá seus ritos. Alguns pontos como os aqui apresentados são tão somente preliminares dentro de um esquema de pensamento delicadamente cunhado por anos de estudo, observação e experiências diversas. Seus membros publicam este texto na intenção de esclarecer que, ao contrário do que os malditos detratores andam espalhando, não aceitamos propostas de inclusão de novos membros em nossas fileiras. Nosso objetivo nunca foi criar uma “escola” de pensamento ou uma “agremiação” de pseudo-ocultistas que desejam “harmonia”, “autodesenvolvimento” e todo um vocabulário asqueroso que povoa a literatura esotérica da atualidade – da qual mantemos sempre uma saudável distância, salvo raríssimos exemplos. Exemplos do passado nos ensinaram que somente a dignidade e a honra geram um real Conhecimento, por isso os membros desta Ordem são escolhidos e convocados a dela participar. E somente aqueles que agreguem uma real Potência em nossas fileiras nela permanecerão – pois a Grande Colheita é eminente e muitos campos precisam ser ceifados. Teksty umieszczone na naszej stronie są własnością wytwórni, wykonawców, osób mających do nich prawa. |
|