Eu, eu sou um jumento Não sou bicho de estimação Não tenho nome, nem apelido Nem estimação Sou jumento e pronto
Na minha terra também me chamam de jegue E me botaram pra trabalhar na roça a vida inteira Trabalhar feito jumento Pra no fim... nada
Minha pensão, nem uma cenoura Acho que é por isso que às vezes também me chamam de burro Eu nem me incomodo
Mas outro dia Eu tava subindo o morro com quinhentos quilos de pedra no lombo Tava ali subindo quando ouvi um paid'égua falar assim: "Mas que mula preguiçosa sô!" Fui ver e a mula era eu Aí eu parei: Mula! É demais! E resolvi dar no pé
Tomei a estrada que leva à cidade E fui seguindo naquela escuridão Naquela humilhação Naquela solidão que nem sei
Não sou disso não Mas me deu uma vontade arretada de chorar E chorar, e chorar aos soluços E pensava com meus borbotões
Jumento não é Jumento não é O grande malandro da praça Trabalha, trabalha de graça Não agrada a ninguém Nem nome não tem É manso e não faz pirraça Mas quando a carcaça ameaça rachar Que coices, que coices Que coices que dá
O pão, a farinha, o feijão, carne seca Quem é que carrega? Hi-ho O pão, a farinha, o feijão, carne seca Limão, mexerica, mamão, melancia Que é que carrega? Hi-ho O pão, a farinha, o feijão, carne seca Limão mexerica, mamão, melancia A areia, o cimento, o tijolo, a pedreira Quem é que carrega? Hi-ho
Jumento não é Jumento não é O grande malandro da praça Trabalha, trabalha de graça Não agrada a ninguém Nem nome não tem É manso e não faz pirraça Mas quando a carcaça ameaça rachar Que coices, que coices Que coices que dá
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